joão miguel ♛

quarta-feira, 12 de setembro de 2012




« O nosso Filme »

Saí do café e estava, como habitualmente, a chover, mas desta vez chovia de uma maneira fria, como se juntassem a chuva à minha dor. Soube-me bem aquecer o coração quando a tua ausência se transformava na ânsia de te tocar novamente, mesmo sabendo ser impossível, mesmo sabendo que já não querias saber de mim. Estava sozinho naquele dia cinzento ausente das nossas memórias, sentindo o coração bater calmamente no meu peito. Atravessei a estrada de terra batida e vi um casal feliz do outro lado '' será que alguma vez terei assim alguém'' pensei enquanto limpava uma lágrima no canto do olho. Trocavam olhares como quem troca beijos, beijavam-se sendo quase possível ver o amor que os abraçava e a saudade voltou a controlar-me, ultimamente só pensava em ti. Tu que agora seguias naturalmente com a tua vida e eu que deveria conseguir seguir com a minha. Mas não, cada vez que punha os fones nos ouvidos e ouvia uma melodia mais triste, o teu nome invadia os meus pensamentos. O caminho de terra batida levou-me para uma casa abandonada, feita de pedra. ''Aposto que grandes amores viveram aqui'', e pensava de novo em ti. Olhei o horizonte e observei o sol a pôr-se, calmamente, enquanto a noite ocupava o seu magnífico lugar. Estava longe do meu querido aposento e sinceramente não fazia grandes intenções de voltar a correr. A noite estava calma, e dentro da casa existiam diversos quadros. Famílias. Casais. Crianças. Recordações. Lá estava eu de novo a pensar em ti. Começou a chover e comecei a sentir o frio a congelar-me os ossos. Sentia-te longe, sentia saudades do teu corpo a aquecer o meu. Olhei de novo o horizonte escuro e relembrei o dia em que a meio da noite te abracei, fazendo com que nunca me deixasses, mas não foi isso que aconteceu. Esperava continuar-te vendo correr até ao encontro dos nossos lábios e em vez disso vejo-te correr para os braços de outro alguém. Será normal tal desespero? Seria a isto que chamavam de amor? Abracei o vento e soltei uma lágrima. Estava cansado, sentia as pernas a cair gradualmente, mas mesmo assim continuei a andar para o desconhecido. Doía-me o coração, como se me espetassem uma faca nele, tinha a boca a saber-me a veneno e a única coisa que queria era sentir o teu abraço, o teu beijo. Não queria sonhar contigo, queria fazer os meus sonhos realidade e vivê-los contigo. Será que é pedir muito? Peço à lua e ao teu orgulho, peço que rompas da imensa escuridão quando eu não esperar e que me beijes como se não houvesse amanhã, por favor, vem e não vás, não me deixes sobre o céu escuro que me assola o medo, protege-me como só tu o sabes fazer. Mas só sabia pensar em ti. Tu, tu, tu, a segunda pessoa do singular ocupava-me a cabeça. Sentei-me numa pedra do lado direito da estrada e fitei a lua. Lembrei-me do dia em que passeámos ao luar no jardim de tua casa, quando me aconchegas-te nos teus braços e me beijas-te o pescoço enquanto eu olhava a lua, a única presente que assistia ao nosso filme de amor. Um romance sem fim que ainda poderia ter muito para dar se não fosse a maldita distância que sempre se lembra de intrometer quando tudo corre às mil maravilhas, mas se todo o filme tem um final feliz, porque não haveria o nosso de ter? E é esse final que eu espero tão ansiosamente.

Escrito com Mauro Santos http://umahistoriaaluzdasvelas.blogspot.com

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