joão miguel ♛

quarta-feira, 25 de abril de 2012


Chamadas Perdidas #7
São precisamente sete da manhã e o despertador já toca violentamente casa fora, ainda mal tinha aberto os olhos e já não podia acreditar em tudo o que se teria passado ontem, não podia acreditar que sua alteza me tivesse convocado finalmente para o tão esperado encontro. Mas que me querias tu dizer? Irias finalmente admitir o que sentes por mim ou vais-me tentar jogar tudo à cara? Mergulhado na rotina diária de um mero estudante ia discutindo com a minha pessoa. « estás parvo, ela só vai querer gozar mais um bocadinho com a tua cara. » gritei comigo mesmo. « não, não pode, ela parecia diferente. » disse mais calmo. Irritado comigo mesmo, corria casa fora num desespero enorme de me ver livre de todas estas quatro paredes que se tornavam cansativas. Agarrei num lápis e numa caneta que usava para fingir que estudava e pus no bolso, sem qualquer paciência para fazer a mala para um dia chuvoso de escola e saí porta fora. (…) A primeira aula, decorria lenta e harmoniosamente, secante e desconcertante, das janelas térreas via a chuva fazer as poças salpicar e de vez em quando miúdos a correr completamente desprotegidos á procura de abrigo, via as árvores a esvoaçar ao som do vento e… um vulto, tão perfeito, tão gracioso, tão meu familiar, sentado no meio de um banco como se nada se passa-se, estava de cabeça baixa e as suas mãos tapavam a cara, os cabelos voavam tão perfeitos, morenos, ondulados, caídos em frente aos ombros, o meu coração fez companhia aos meus olhos e reconheceu-te, « estás tão bonita. » sussurrei. Tinha de sair dali, a bem ou a mal, tinha de lá ir ter, « Stora, posso ir lá fora um bocado, estou-me a sentir mal. » desculpa mais velha de todos os tempos, « não, a aula está quase a acabar. » ouvi. « eu preciso mesmo de ir lá fora. »,« já lhe disse que a aula está quase a acabar, não interrompa! », « olhe, então bom fim de semana. », prático e sem mala, saí mais uma vez porta fora enquanto ouvia os murmurinhos dos meus colegas de turma. Rei de mim mesmo, melhor que todos e que ninguém, já presenciava a doce aragem trazida pelo vento. Inspirei. Expirei. Fechei os olhos. Inspirei. Expirei. O meu coração batia como nunca o sentira, e foi então que ganhei coragem de caminhar em tua direção (…) vi-te olhar e levantar-te apressada, estavas estranha, constrangida, pensativa, com a maquilhagem completamente borrada e tentavas disfarçar que nada se passava. Baixei a cabeça para não perder a coragem e quando a levantei, já quase não fui a tempo de te ver correr nos meus braços, agarrei-te como à muito não fazia, os nossos corpos voltaram a ser um só como eu sempre desejei, não resisti, mexia-te no cabelo enquanto te sentia tremer nos meus braços e foi tão rápido, afastas-te e olhaste-me nos olhos, mostravam fieldade e amor, carinho eternura, e envolto em pensamentos, voltei a sentir o teu doce sabor, tão feminino, tão dona de si, fechei os olhos e em menos de nada, já me tinhas soltado a mão e corrias furiosa para bem longe ao mesmo tempo que gritavas « tenho mesmo de ir, desculpa. ».

segunda-feira, 2 de abril de 2012


Chamadas Perdidas #6 
Passou a ser tudo à minha maneira, só os meus olhos não me deixavam mentir porque se o deixassem, o meu mundo seria perfeito, não concordas? Aos olhos de quem mais ordena era sem duvida eu o desgraçadinho de todo este conto de fadas, escrito por ti, vivido por mim.
Eram vinte e uma horas e quinze minutos, continuava sem ninguém em casa, bastava-me o silêncio constrangedor e as provocantes palavras escarrapachadas continuamente em cima da secretária. Não como desde as sete e picos da manhã e a minha barriga ronronava como um gato a querer brincar, mas que comparação mais estupida, parecia mais uma parede a desmoronar. Levantei-me preguiçosamente até ao armário da cozinha, estava vazio e nem sinais de um jantar quentinho acabado de fazer. Foi então que ecoou desesperadamente o som da campainha que me irritou de uma forma imunda. « Já vou. » gritei. Pus a chave na porta, rodei, já destrancada, rodei também o puxador e a porta abriu-se, não estava ninguém. Só outro papel, delicadamente posto exatamente no meio do tapete de entrada, baixei-me bruscamente para o apanhar ao mesmo tempo que o telemóvel no fundo da casa começou a irradiar uma melodia já minha familiar. Fechei a porta numa complicação tremenda e corri para o encontrar (…) era a tua chamada e a ultima chance de eu te poder ouvir hoje, eram as tuas palavras e as minhas inseguranças, era o teu mistério e o meu amor, eram os teus olhos e os meus lábios, era somente eu e tu. « Estou amor. » disse ainda mal tinha atendido a chamada. Serena e direta « o papel? », « Que papel? », « Esse mesmo que estava em cima do tapete. », « ainda não li, quer dizer, foi tudo de seguida, não tive tempo. » , « epah que lesma, vê se te despachas que não tenho a tua vida. », PI PI PI.  Ignorei o facto de me teres voltado a desligar a chamada e de o estupido telemóvel repetir vezes a mil, chamada perdida. Desdobrei o papel e deitei-me na cama pensando ser mais um enigma tão bem escrito, mas enganei-me, desta vez o papel estava tão borrado que as letras mal se percebiam, tão mal escrito, tão sei lá, nem parecia teu. « eu, tu.. nós, temos, temos, temos…» aish não percebo isto. « temos… falar. Amanha.. mais cedo.. escola… contigo. » okay, o meu coração tão pequenino pesava dez quilos no meu peito e os meus olhos, esses estavam tão afogados pelas tuas palavras que não se voltaram a abrir por hoje.