Chamadas Perdidas #7
São precisamente sete da
manhã e o despertador já toca violentamente casa fora, ainda mal tinha aberto
os olhos e já não podia acreditar em tudo o que se teria passado ontem, não
podia acreditar que sua alteza me tivesse convocado finalmente para o tão
esperado encontro. Mas que me querias tu dizer? Irias finalmente admitir o que
sentes por mim ou vais-me tentar jogar tudo à cara? Mergulhado na rotina diária
de um mero estudante ia discutindo com a minha pessoa. « estás parvo, ela só
vai querer gozar mais um bocadinho com a tua cara. » gritei comigo mesmo. «
não, não pode, ela parecia diferente. » disse mais calmo. Irritado comigo
mesmo, corria casa fora num desespero enorme de me ver livre de todas estas
quatro paredes que se tornavam cansativas. Agarrei num lápis e numa caneta que
usava para fingir que estudava e pus no bolso, sem qualquer paciência para
fazer a mala para um dia chuvoso de escola e saí porta fora. (…) A primeira
aula, decorria lenta e harmoniosamente, secante e desconcertante, das janelas
térreas via a chuva fazer as poças salpicar e de vez em quando miúdos a correr
completamente desprotegidos á procura de abrigo, via as árvores a esvoaçar ao
som do vento e… um vulto, tão perfeito, tão gracioso, tão meu familiar, sentado
no meio de um banco como se nada se passa-se, estava de cabeça baixa e as suas
mãos tapavam a cara, os cabelos voavam tão perfeitos, morenos, ondulados,
caídos em frente aos ombros, o meu coração fez companhia aos meus olhos e
reconheceu-te, « estás tão bonita. » sussurrei. Tinha de sair dali, a bem ou a
mal, tinha de lá ir ter, « Stora, posso ir lá fora um bocado, estou-me a sentir
mal. » desculpa mais velha de todos os tempos, « não, a aula está quase a
acabar. » ouvi. « eu preciso mesmo de ir lá fora. »,« já lhe disse que a aula
está quase a acabar, não interrompa! », « olhe, então bom fim de semana. »,
prático e sem mala, saí mais uma vez porta fora enquanto ouvia os murmurinhos
dos meus colegas de turma. Rei de mim mesmo, melhor que todos e que ninguém, já
presenciava a doce aragem trazida pelo vento. Inspirei. Expirei. Fechei os
olhos. Inspirei. Expirei. O meu coração batia como nunca o sentira, e foi então
que ganhei coragem de caminhar em tua direção (…) vi-te olhar e levantar-te
apressada, estavas estranha, constrangida, pensativa, com a maquilhagem completamente
borrada e tentavas disfarçar que nada se passava. Baixei a cabeça para não perder
a coragem e quando a levantei, já quase não fui a tempo de te ver correr nos
meus braços, agarrei-te como à muito não fazia, os nossos corpos voltaram a ser
um só como eu sempre desejei, não resisti, mexia-te no cabelo enquanto te
sentia tremer nos meus braços e foi tão rápido, afastas-te e olhaste-me nos
olhos, mostravam fieldade e amor, carinho eternura, e envolto em pensamentos,
voltei a sentir o teu doce sabor, tão feminino, tão dona de si, fechei os olhos
e em menos de nada, já me tinhas soltado a mão e corrias furiosa para bem longe
ao mesmo tempo que gritavas « tenho mesmo de ir, desculpa. ».