Chamadas Perdidas #8
Como sendo drasticamente
o melhor hábito de todos os tempos, o meu dia mudara por completo. Tu voltaras
a pertencer-me, mas ainda corrias para longe como se procurasses outro alguém,
como se o teu coração não fosse unicamente meu. Mas o teu cheiro percorria-me
novamente o corpo e a recordação do teu toque, afligia-me por completo. O meu
coração batia descompassadamente como à muito não o sentia e tu, em meros
segundos, voltas-te a ensinar-me a sobreviver. (…) Envolto em discordâncias de
todo o meu pensamento, o medo de te ver partir assolou-me o corpo e raiva
transformou-se em lágrimas, sentia o vento secar-me o rosto enquanto a chuva
disfarçava a tamanha angustia em que me deixaras. Afoguei-me na tua nostalgia. Afoguei-me
por completo e não via ninguém apto a salvar-me. Ninguém senão tu. Tu que
estavas envolta no abraço de outro ser do qual nunca me tinhas falado. Parecias
tão feliz. Tão feliz e constrangida. Seria possível? Olhavas-me de longe como
quem pede perdão e eu assentia com a cabeça, seria burro ao ponto de me deixar
magoar? (…) Mal forcei os olhos a fecharem-se e quando os voltei a abrir já não
te via, esforcei-me a ver ao longo de toda a rua e nada, não estavas em parte
alguma, procurava-te por entre a imensa multidão que via fugir desta tamanha tempestade
quando o toque de fim de aulas me despertou, agora fazia sentido o enorme exame
que em meros segundos rompeu o mundo, estava na hora de toda a viva alma retomar
aos seus lindos aposentos, e lá ia eu também, rastejando ao sabor do vento (…) Deixei-me
ficar pela televisão e nada comi entretanto, o sofá abraçava-me e os meus olhos
diziam adeus a um longo dia. Foi quando a noite já ia longa e a lua se punha
diante da estrela mais brilhante que voltei a ter outra chamada tua, uma
chamada perdida.