joão miguel ♛

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

CHAMADAS PERDIDAS 2#
O dia ia passando e quanto mais passava mais incomodado ficava. O tempo não corria na mesma leve e harmoniosa rapidez habitual, em vez disso o ponteiro parecia pesado, como se nada nem ninguém o fizesse mover daquelas malditas dezassete horas e quarenta e picos. Lá fora a noite começava a pôr-se e com a noite vinha o frio aliado da imensa chuva que estava pronta a encharcar-me como se não houvesse amanha e eu, nada podia fazer a não ser aguardar a estúpida chamada perdida de volta. (…) São neste preciso momento, vinte e três horas e dezoito minutos, sabes o que significa? Está na maldita hora do último cigarro do dia, do último bafo na imensa solidão e culpa a que sempre me habituas-te. (…) O barulho da persiana a correr fez-me uma tremenda confusão de que nem tu fazes ideia, abri a janela e o vento frio acariciou-se as faces quentes, beijou-me as maças do rosto, penteou-me o cabelo com tamanha suavidade, que quase me deixei embalar pensando seres tu. O cigarro ia sendo comido pela imensa aragem, enquanto a lua era reflectida no ecrã do telemóvel que aguardava a chamada viciante de todas as malditas noites… Foi precisamente quando esbocei um sorriso de indiferença e os lábios alcançaram o denso fumo do cigarro, que a luz do telemóvel piscou incansavelmente, eras tu, era finalmente a chamada perdida que aguardara todo o dia, « estou, amor? Fala comigo. », mas mais uma vez não pude usufruir da tua doce melodia pela qual me apaixonara, não pude ouvir as palavras tão bem cantadas que me hipnotizavam, nem isso, nem os habituais sons que me irritavam, desta vez não ouvia o estilhaçar de algo, mas sim portas a bater, vezes e vezes sem conta, como se a maior das tempestades tivesse a acontecer na tua casa, aquela a que chamavas de nossa, « amor, por favor, fala. », mas tu, mais uma vez nada, deixavas-me somente na mais pura e cruel das indiferenças, a qual tu própria sabes que eu detestava, sempre gostei de ser o centro de tudo, a maldita vedeta do mundo do espectáculo, seja isso bom ou mau, mas desta vez foste tu a desligar, digo-te, foi algo que me irritou, mas sabes como sou, o meu orgulho fala sempre mais alto que a maior multidão do mundo fechada numa sala e como tal só pensei « enfim, mais uma chamada perdida. », estava cansado, era meia noite e cinquenta e três e a ultima coisa de que me lembro foi olhar para a tua foto e cair na suave cama, onde provavelmente me envolvi no maior dos sonos, onde provavelmente desejaria acordar e ver-te aqui, ao meu lado, mas não, em vez disso, vim um despertador e sabes que me dizia? Que estava atrasado, agora só me resta esperar que o teu orgulho não seja tão grande quanto o meu, só me resta mais uma chamada tua, e desta vez espero que não seja perdida por entre os oceanos de lágrimas a que me deixas sempre, nem isso nem a imensa ventania de confusões que assentavas na minha cabeça como se fosse um bloco de notas, mas pronto « até logo. », suspirei..

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